Missionário da Consolata na Colômbia e no Equador...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 10,25-37 - 15º Domingo do Tempo Comum

Por Patrick Silva

Um doutor da Lei se levantou e, querendo experimentar Jesus, perguntou: “Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” Jesus lhe disse: “Que está escrito na Lei? Como lês?” Ele respondeu: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento; e teu próximo como a ti mesmo!” Jesus lhe disse: “Respondeste corretamente. Faze isso e viverás”. Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?” Jesus retomou: “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o quase morto.
Por acaso, um sacerdote estava passando por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro lado. O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado. Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu, e moveu-se de compaixão. Aproximou-se dele e tratou-lhe as feridas, derramando nelas óleo e vinho. Depois colocou-o em seu próprio animal e o levou a uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou dois denários e entregou-os ao dono da pensão, recomendando: “Toma conta dele! Quando eu voltar, pagarei o que tiveres gasto a mais”. E Jesus perguntou: “Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então Jesus lhe disse: “Vai e faze tu a mesma coisa”. (Lucas 10,25-37)

1. LECTIO – leitura
O contexto deste episódio continua sendo a longa “caminhada” de Jesus rumo a Jerusalem. Um caminho onde o Mestre vai dando a conhecer o seu projeto aos seus discípulos, que percorrem o percurso a seu lado. Assim, é num contexto “pedagógico” que vai aparecer a “parábola do bom samaritano”. Para bem entender o episódio é primordial recordar a relação entre judeus e samaritanos. Trata-se de dois grupos que estavam separados e cujas relações eram, no tempo de Jesus, bastante conflituosas. Historicamente, a divisão começou quando, em 721 a.C., a Samaria foi tomada pelos assírios. Os colonos assírios se misturaram com a população local; para os judeus, os habitantes da Samaria começaram, então, a paganizar-se (veja 2 Re 17,29). A relação entre as duas comunidades deteriorou-se ainda mais quando, após o regresso do exílio, os judeus recusaram a ajuda dos samaritanos para a reconstrução do templo de Jerusalém. Para piorar a situação, mo ano de 333 a.C., os samaritanos construíram um templo no monte Garizim.
O ponto de partida é a pergunta de um mestre da Lei: “o que fazer, para herdar a vida eterna?” (O evangelista Marcos apresenta a mesma cena – 12,28-34 – mas, aí, a pergunta é acerca do “maior mandamento da Lei”). A resposta é previsível e evidente, de tal forma que o próprio mestre da Lei a conhece: amar a Deus, fazer de Deus o centro da vida e amar o próximo como a si mesmo. Neste “resumo” dos mandamentos, cita-se Dt 6,5 e Lv 19,18. Jesus concorda: até aqui, a proposta de Jesus não acrescenta nada de novo àquilo que a própria Lei sugere. O mestre da Lei, porém, vai mais fundo: “e quem é o meu próximo?” É uma questão pertinente, neste contexto. Na época de Jesus, os mestres de Israel discutiam, precisamente, quem era o “próximo”. Naturalmente, havia opiniões mais abrangentes e opiniões mais exclusivistas; mas havia consenso entre todos no sentido de excluir da categoria “próximo” os inimigos: de acordo com a Lei, o “próximo” era apenas o membro do Povo de Deus (veja Ex 20,16-17; 21,14.18.35; Lv 19,11.13.15-18). Jesus, no entanto, tinha uma perspectiva diferente. É precisamente para explicar a sua perspectiva que Jesus conta a “parábola do bom samaritano”.
A parábola situa-nos nessa estrada de cerca de 30 quilômetros entre Jerusalém e Jericó. Era uma estrada conhecida por ser perigosa. Ora “um homem” (não identificado) foi assaltado pelos bandidos e deixado caído na estrada. Pela estrada passaram sucessivamente um sacerdote (que conhecia a Lei e que exercia funções litúrgicas no templo) e um levita (ligado à instituição religiosa judaica e que exercia, também, funções litúrgicas no templo). Ambos passaram adiante: ou o medo de enfrentar a mesma sorte, ou as preocupações com a pureza legal (que impedia tocar num cadáver), ou a pressa, ou a indiferença diante do sofrimento alheio, impede-os de parar. Apesar dos seus conhecimentos religiosos, não têm qualquer sentimento de misericórdia por aquele homem. Pela estrada passou, finalmente, um samaritano. Trata-se de um desses que a religião tradicional de Israel considerava um inimigo, um infiel, longe da salvação e do amor de Deus… No entanto, foi ele que parou, sem medo de correr riscos ou de adiar os seus esquemas e interesses pessoais, que cuidou do ferido e que o salvou.
Jesus conclui a parábola dizendo ao mestre da Lei que o interrogara: “então vai e faze o mesmo”. A verdadeira religião que conduz à vida plena passa pelo amor a Deus, traduzido em gestos concretos de amor pelo irmão – por todo o irmão, sem exceção. Recordemos que a pergunta inicial era: “o que fazer para alcançar a vida eterna”… A conclusão é óbvia: para alcançar a vida eterna é preciso amar a Deus e amar o próximo. O “próximo” é qualquer um que necessita de nós, seja amigo ou inimigo, conhecido ou desconhecido, da mesma raça ou doutra raça qualquer; o “próximo” é qualquer irmão caído nos caminhos da vida que necessita, para se levantar, da nossa ajuda e do nosso amor.

2. MEDITATIO – meditação
+ A pergunta do mestre da Lei não é uma pergunta acadêmica; é a pergunta que continua sendo feita cada dia por tantas pessoas: “o que fazer para chegar à vida plena, à felicidade? Como dar, verdadeiramente, sentido à vida? Qual a sua resposta?
+ O evangelho é claro na resposta: para alcançar a felicidade é precisar a amar a Deus e ao próximo. Acredita nesta resposta?
+ Teria a coragem de agir como o Samaritano? Teria coragem de parar, de cuidar, mesmo correndo riscos? Quem é o próximo para você?

3. ORATIO – oração
Deixe o Salmo 69 guiar suas orações para aqueles que você ama e para aqueles que você vê na necessidade.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Leia Colossenses 1,15-20 lentamente diversas vezes. “Perca tempo” contemplando o significado da magnificência de Cristo revelado aí.

5. MISSIO – missão
“O bem deve ser bem feito e sem barulho. O importante não e fazer muitas coisas, mas fazê-las bem”. José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário