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quinta-feira, 29 de julho de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 12,13-21 - 18º Domingo do Tempo Comum

Por Patrick Silva

Alguém do meio da multidão disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”. Ele respondeu: “Homem, quem me encarregou de ser juiz ou árbitro entre vós?” E disse-lhes: “Atenção! Guardai-vos de todo tipo de ganância, pois mesmo que se tenha muitas coisas, a vida não consiste na abundância de bens”. E contou-lhes uma parábola: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava consigo mesmo: ‘Que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, goza a vida! ’ Mas Deus lhe diz: ‘Tolo! Ainda nesta noite, tua vida te será retirada. E para quem ficará o que acumulaste? ’ Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não se torna rico diante de Deus”. (Lucas 12,13-21)

1. LECTIO – leitura

Na semana passada o evangelho apresentou um pedido original por parte dos discípulos em relação a Jesus. Eles desejavam aprender a rezar, o testemunho de oração de Jesus e uma “certa inveja” em relação aos discípulos de João Batista motivou este pedido, Jesus aproveitou para nos ensinar a extraordinária oração do Pai Nosso. Desta vez o evangelho oferece uma nova catequese sobre a verdadeira riqueza. A nível contextual continuamos na caminhada rumo a Jerusalém. Após o ensino da oração Jesus entra em conflito com as autoridades religiosas, primeiro sendo acusado de estar ao serviço de Belzebu (Lc 1,15), depois segue uma provocação da parte de Jesus, acusando aquela geração de ser má (Lc 11,29); à mesa na casa de um fariseu lança mais uma critica às atitudes farisaicas (Lc 11,37-54). As atitudes de Jesus parecem agradar ao povo e o capítulo 12 recorda que uma grande multidão “comprime” Jesus, o qual aproveita a ocasião para se dirigir primeiramente aos discípulos convidando-os a estar atentos à hiprocrisia dos fariseus. Apesar de se dirigir aos discípulos, é da multidão que surge um pedido: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”. Jesus escusa-se a envolver-se em questões de direito familiar e a tomar posição por um irmão contra outro (v. 14). O que estava em causa na questão era a cobiça, a luta pelos bens, o apego excessivo às coisas. Jesus não se envolve porque propõe uma nova lógica: as coisas não são a fonte da verdadeira vida. A cobiça dos bens (o desejo insaciável de ter) é idolatria: não conduz à vida plena, não responde às aspirações mais profundas da pessoa. Para evidenciar sua lógica Jesus propõe uma parábola. A parábola ilustra a atitude da pessoa voltada para os bens materiais, mas que se esquece do essencial. Apresenta uma pessoa previdente, responsável, trabalhadora (que até podíamos admirar e louvar); mas que, de forma egoísta e obsessiva, vive apenas para os bens que lhe asseguram tranqüilidade e bem-estar material (e nisso, já não o podemos louvar e admirar). Essa pessoa representa, aqui, todos aqueles cuja vida é apenas um acumular sempre mais, esquecendo tudo o resto – inclusive Deus, a família e os outros. A resposta ao diálogo interior e às escolhas que fez em sua vida são dadas pelo próprio Deus. No entanto, o que interessa aqui não e o “fim” desta pessoa, mas o objetivo é mostrar que uma vida vivida desse jeito não tem sentido e que quem vive para acumular mais e mais bens é, aos olhos de Deus, um “insensato”.

O que é que Jesus pretende comunicar? Será que está convidando os seus discípulos a “livrarem-se” de todos os bens? E a viverem despreocupados com o futuro? Não! O que Jesus pretende é recordar que não podemos viver escravos dos bens materiais, como se eles fossem a única coisa e a mais importante da nossa vida. A preocupação excessiva com os bens, a busca obsessiva dos bens, constitui uma experiência de egoísmo. Quando o coração está cheio de cobiça, de egoísmo, quando a vida se torna uma luta obsessiva pelo “ter”, a pessoa torna-se insensível aos outros e a Deus; é capaz de explorar, de escravizar o irmão, de cometer injustiças, a fim de ampliar a sua conta bancária. Torna-se orgulhoso e auto- suficiente, incapaz de amar, de partilhar, de se preocupar com os outros… Fica, então, à margem do Reino.

Atenção: esta parábola não se destina apenas àqueles que têm muitos bens; mas destina-se a todos aqueles que (tendo muito ou pouco) vivem obcecados com os bens, orientam a sua vida no sentido do “ter” e fazem dos bens materiais os deuses que condicionam a sua vida e o seu agir.

O episódio narrado por Lucas pode muito bem ter sido inspirado por Eclesiástico 11,18-28, o tema é recorrente no Antigo Testamento (Sl 49, Pr 11,28). Jesus continua a tradição que recorda que a verdadeira riqueza não consiste naquilo que acumulamos materialmente, mas na riqueza perante Deus, que se alcança quando somos capazes de partilhar, do muito ou pouco que temos com os irmãos.

2. MEDITATIO – meditação
+ O evangelho questiona fortemente alguns dos fundamentos sobre os quais a nossa sociedade se constrói. O capitalismo selvagem que, por amor do lucro, escraviza e obriga a trabalhar até à exaustão (e por salários miseráveis) homens, mulheres e crianças, continua vivo em tantos cantos do nosso planeta… Será que podemos ser indiferentes a toda essa realidade?
+ Na sua vida apenas se preocupa em acumular “coisas”? É capaz de partilhar aquilo que tem (mesmo sendo pouco)?
+ Será que uma vida vivida unicamente para acumular riqueza suficiente para um bom “descanso” futuro (uma boa aposentadoria) vale a pena? Muitos vivem assim, esquecendo família, amigos, lazer, etc… Cuidado, avisa o Senhor!
+ O que Jesus denuncia aqui não é a riqueza, mas a “deificação” da riqueza (riqueza como um deus). Até alguém que fez “voto de pobreza” pode deixar-se tentar pelo apelo dos bens e colocar neles o seu interesse fundamental… A todos Jesus recomenda: “cuidado com os falsos deuses; não deixem que o acessório vos distraia do fundamental”.

3. ORATIO – oração
Agora é tempo de rezar com este texto. Pode começar por pedir perdão se às vezes na sua vida a única preocupação foi o acumular em vista de um futuro melhor, esquecendo o presente. Ainda está em tempo de mudar a direção, mas é bom não esquecer que não sabemos nem o dia, nem a hora. Agradeça a Deus por todas as vezes em que teve coragem de partilhar com o irmão.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
“Não ajunteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões assaltam e roubam. Ao contrário, ajuntai para vós tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, nem os ladrões assaltam e roubam. Pois onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6:19-21). O que você acha que faz uma pessoa rica aos olhos de Deus? Passe algum tempo em silêncio diante de Deus e deixe-o revelar as suas riquezas em sua vida.

5. MISSIO – missão
“Quanto mais nos desligamos das coisas do mundo, mesmo só em pensamento, tantos mais livres nos sentimos para voar em direção a Deus”. José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/

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