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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 14,1.7-14 - 22º Domingo do Tempo Comum

Por Patrick Silva

Num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. Estes o observavam. Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola: “Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante, e o dono da casa, que convidou os dois, venha a te dizer: ‘Cede o lugar a ele’. Então irás cheio de vergonha ocupar o último lugar. Ao contrário, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Quando chegar então aquele que te convidou, ele te dirá: ‘Amigo, vem para um lugar melhor! ’ Será uma honra para ti, à vista de todos os convidados. Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”. E disse também a quem o tinha convidado: “Quando ofereceres um almoço ou jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes podem te convidar por sua vez, e isto já será a tua recompensa. Pelo contrário, quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos!Então serás feliz, pois estes não têm como te retribuir! Receberás a recompensa na ressurreição dos justos”. (Lucas 14,1.7-14)

1. LECTIO – Leitura
Na caminhada rumo a Jerusalém temos uma parada na cada de um dos chefes dos fariseus para uma refeição num dia de sábado. Será nesse contexto que Jesus nos oferece mais uma das suas catequeses. Provavelmente trata-se da refeição festiva de sábado, realizada por volta do meio-dia, ao regressar da sinagoga. Era habitual convidar hóspedes; enquanto comiam, partilhavam sobre as leituras escutadas na sinagoga. Apesar de muitas vezes encontrarmos Jesus em disputa com as autoridades religiosas do seu tempo, Lucas mostra os fariseus próximos de Jesus que até o convidam para casa e se sentam à mesa com Ele (veja Lc 7,36; 11,37). Os fariseus formavam um dos principais grupos religiosos da sociedade palestina desta época. A sua preocupação fundamental era transmitir a todos o amor pela Torah (lei), quer escrita, quer oral. Conscientes das suas capacidades, da sua integridade, da sua superioridade, não eram propriamente modelos de humildade. Isso talvez explique o ambiente de luta pelos lugares de honra que o Evangelho refere. Convém, também, ter em conta que estamos no contexto de um “banquete”. O “banquete” é, no mundo semita, o espaço do encontro fraterno, onde os convivas partilham do mesmo alimento e estabelecem laços de comunhão, de proximidade, de familiaridade. Jesus aparece, muitas vezes, envolvido em banquetes, porque, o banquete era sinal de comunhão, de encontro, de familiaridade, o banquete anuncia a realidade do “reino”.

O texto apresenta duas partes. A primeira (v. 7-11) onde a questão da humildade é apresentada e a segunda (v. 12-14) onde encontramos o tema da gratuidade e do amor desinteressado. Ambas estão unidas pelo tema do “Reino”: são atitudes fundamentais para quem desejar participar no banquete do “Reino”. As palavras que Jesus dirigiu aos convidados que disputavam os lugares de honra não são novidade, pois já o Antigo Testamento aconselhava a não ocupar os primeiros lugares (veja Prov 25,6-7); mas o que aí era uma exortação moral, nas palavras de Jesus converte-se numa apresentação da lógica do “Reino”: o “Reino” é um espaço de fraternidade, de comunhão, de partilha e de serviço, que exclui qualquer atitude de superioridade, de orgulho, de ambição, de domínio sobre os outros; quem quiser entrar nele, tem de fazer-se pequeno, simples, humilde e não ter pretensões de ser melhor, mais justo, ou mais importante que os outros. Esta é, aliás, a lógica que Jesus sempre propôs aos seus discípulos: Ele próprio, na “última ceia”, lavou os pés aos discípulos e constituiu-os em comunidade de amor e de serviço – avisando que, na comunidade do “Reino”, os primeiros serão os servos de todos (veja Jo 13,1-17). Na segunda parte, Jesus põe em causa a prática de convidar para o banquete apenas os amigos, os irmãos, os parentes, os vizinhos ricos. Os fariseus escolhiam cuidadosamente os seus convidados para a mesa. Nas suas refeições, não convinha haver alguém de nível menos elevado, pois a “comunidade de mesa” vinculava os convivas e não convinha estabelecer obrigatoriamente laços com gente desclassificada e pecadora. Por outro lado, também os fariseus tinham a tendência – própria de todas as pessoas, de todas as épocas e culturas – de convidar aqueles que podiam retribuir da mesma forma… A questão é que, dessa forma, tudo se tornava um intercâmbio de favores e não gratuidade e amor desinteressado. Jesus denuncia esta atitude, mas vai mais além e apresenta uma proposta verdadeiramente subversiva… Segundo Ele, é preciso convidar “os pobres, os coxos e os cegos”. Os cegos, coxos eram considerados pecadores notórios, amaldiçoados por Deus, e por isso estavam proibidos de entrar no Templo (veja 2 Sm 5,8) para não profanar esse lugar sagrado (veja Lv 21,18-23). No entanto, são esses que devem ser os convidados para o “banquete”. Fica fácil entender que Jesus já não está simplesmente a falar dessa refeição comida em casa de um fariseu, na companhia de gente distinta; mas está já a falar daquilo que esse “banquete” anuncia e prefigura: o banquete do “Reino”. Jesus traça aqui os contornos do “Reino”. Ele é apresentado como um “banquete”, onde os convidados estão unidos por laços de familiaridade, de comunhão. Para esse “banquete”, todos – sem exceção – são convidados (inclusive aqueles que a cultura social e religiosa tantas vezes exclui e marginaliza). As relações entre os que aderem ao banquete do “Reino” não serão marcadas pelos jogos de interesses, mas pela gratuidade e pelo amor desinteressado; e os participantes do “banquete” devem despir-se de qualquer atitude de superioridade, de orgulho, de ambição, para se colocarem numa atitude de humildade, de simplicidade, de serviço.

2. MEDITATIO – meditação
A Igreja, fruto do “Reino”, deve ser essa comunidade onde se torna realidade a lógica do “Reino” e onde se cultivam a humildade, a simplicidade, o amor gratuito e desinteressado. É isso que acontece de verdade?

Nas comunidades cristãs, por vezes, se assiste à procura dos primeiros lugares, dos serviços que se destacam. No entanto, para Jesus, as coisas são bastante claras: esta lógica não tem nada a ver com a lógica do “Reino”; quem prefere esquemas de superioridade, de prepotência, de humilhação dos outros, de ambição, de orgulho, está a impedir a chegada do “Reino”.

Também há, na comunidade cristã, pessoas cuja ambição se sobrepõe à vontade de servir… Aquilo que os motiva e estimula são os títulos, as honras, as homenagens, os lugares privilegiados, e não o serviço humilde e o amor desinteressado. Essas atitudes precisam ser mudadas!

Para Lucas, as comunidades cristãs não podem estar unidas por laços de interesses, mas ao contrário, pela lógica da fraternidade e da doação desinteressada, só assim, se cresce na vida comunitária.

Os cegos e coxos representam, no Evangelho proposto, todos aqueles que a religião oficial excluía da comunidade da salvação; apesar disso, Jesus diz que esses devem ser os primeiros convidados do “banquete do Reino”. Como é que os pecadores notórios, os marginais, os divorciados, os homossexuais, as prostitutas são acolhidos na Igreja de Jesus?

3. ORATIO – oração
Peça a Deus para falar-lhe sobre a humildade e hospitalidade. Leia o Salmo 68,1-10. Observe o contraste entre a majestade de Deus e sua preocupação com os pobres, os solitários, para as viúvas, os órfãos e prisioneiros. Ore pelas pessoas que vivem nessas situações.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Leia o hino presente em Filipenses 2,3-11, em palavras extraordinárias o autor dessa carta coloca a atitude de Jesus que de divino aceita se tornar um de nós para melhor nos apresentar a proposta de Jesus.

5. MISSIO – missão
“Há pessoas que só procuram as coisas grandes, extraordinárias. Ora isso não é procurar a Deus. Deus tanto se encontra nas coisas grandes como nas pequenas.” José Allamano

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