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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 16,1-13 - 25º Domingo do Tempo Comum

Por Patrick Silva

Depois, Jesus falou ainda aos discípulos: “Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de esbanjar os seus bens. Ele o chamou e lhe disse: ‘Que ouço dizer a teu respeito? Presta contas da tua administração, pois já não podes mais administrar meus bens’. O administrador, então, começou a refletir: ‘Meu senhor vai me tirar a administração. Que vou fazer? Cavar, não tenho forças; mendigar, tenho vergonha. Ah! Já sei o que fazer, para que alguém me receba em sua casa quando eu for afastado da administração’. Então chamou cada um dos que estavam devendo ao seu senhor. E perguntou ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor? ’ Ele respondeu: ‘Cem barris de óleo! ’ O administrador disse: ‘Pega a tua conta, senta-te, depressa, e escreve: cinqüenta! ’ Depois perguntou a outro: ‘E tu, quando deves? ’ Ele respondeu: ‘Cem sacas de trigo. ’ O administrador disse: ‘Pega tua conta e escreve: oitenta’. E o senhor elogiou o administrador desonesto, porque agiu com esperteza. De fato, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz. “Eu vos digo: usai o ‘Dinheiro’, embora iníquo, para fazer amigos. Quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas. Quem é fiel nas pequenas coisas será fiel também nas grandes, e quem é injusto nas pequenas será injusto também nas grandes. Por isso, se não sois fiéis no uso do ‘Dinheiro iníquo’, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não sois fiéis no que é dos outros, quem vos dará aquilo que é vosso? Ninguém pode servir a dois senhores. Pois vai odiar a um e amar o outro, ou se apegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao ‘Dinheiro’”. (Lucas 16,1-13)

1. LECTIO – Leitura
Após a apresentação das “parábolas da misericórdia” com as quais Jesus procurou mostrar a lógica de Deus em relação aos pecadores, mostrando grande amor e misericórdia de Deus. Desta vez, o Evangelho apresenta-nos mais um passo do “caminho para Jerusalém”. Jesus não Se dirige aos fariseus, mas aos discípulos. Com este episódio, que apresenta contornos de caso real, tirado da vida, Jesus ensina os discípulos acerca da forma como se situar face aos bens deste mundo.

A mensagem está centrada na boa utilização dos bens deste mundo: eles devem servir para garantir outros bens, mais duradouros. Na primeira parte do texto (vs. 1-9) apresenta-se a parábola de um administrador sagaz. A parábola apresenta um homem que é acusado de administrar de forma incompetente (possivelmente desonesta) os bens do patrão. Chamado a prestar contas, acaba sendo despedido. No entanto, este homem tem a preocupação de assegurar o seu futuro. Chama os devedores do patrão e reduz-lhes consideravelmente as quantias em dívida. Dessa forma – supõe ele – os devedores beneficiados não esquecerão a sua generosidade e, mais tarde, manifestar-lhe-ão a sua gratidão e acolhê-lo-ão em sua casa. Como justificar o proceder deste administrador, que assegura o futuro à custa dos bens do seu senhor? Porque é que o senhor, prejudicado nos seus interesses, não tem uma palavra de reprovação ao inteirar-se do prejuízo recebido? Como pode Jesus dar como exemplo aos discípulos as atitudes de um tal administrador?

Algumas destas dificuldades desaparecem se tivermos em conta as leis e costumes da Palestina nos tempos de Jesus. O administrador de uma propriedade atuava em nome e em lugar do seu senhor; como não recebia remuneração, podia ressarcir-se dos seus gastos a expensas dos devedores.

Habitualmente, ele fornecia um determinado número de bens, mas o devedor ficava a dever muito mais; a diferença era a “comissão” do administrador. Deve ser isso que serve de base a este caso… Dos cem “barris” de óleo (uns 3.700 litros) consignados no recibo (v.. 6), só uns cinqüenta haviam sido, na realidade, emprestados; os outros cinqüenta constituíam o reembolso dos gastos do administrador e a exorbitante “comissão” que lhe devia ser paga pela operação. Provavelmente, o que este administrador sagaz fez foi renunciar ao lucro que lhe era devido, a fim de assegurar a gratidão dos devedores: renunciou a um lucro imediato, a fim de assegurar o seu futuro. Este administrador (se ele é chamado de “desonesto” – v. 8 – não o é por este gesto, mas pelos atos anteriores, que até levaram o patrão a despedi-lo) é um exemplo pela sua habilidade e sagacidade: ele sabe que o dinheiro tem um valor relativo e troca-o por outros valores mais significativos – a amizade, a gratidão. Jesus conclui a história convidando os discípulos a serem tão hábeis como este administrador (v. 9): os discípulos devem usar os bens deste mundo, não como um fim em si mesmo, mas para conseguir algo mais importante e mais duradouro (o que, na lógica de Jesus, tem a ver com os valores do “Reino”).

Na segunda parte do texto (vs. 10-13), Lucas apresenta-nos uma série de “frases” de Jesus sobre o uso do dinheiro (originariamente, estas “frases” não tinham nada a ver com o contexto desta parábola). No geral, essas “frases” alertavam os discípulos para o bom uso dos bens materiais: se sabemos utilizá-los tendo em conta as exigências do “Reino”, seremos dignos de receber o verdadeiro bem, quando nos encontrarmos definitivamente com o Senhor ressuscitado. O nosso texto termina com um alerta de Jesus acerca da “deificação” do dinheiro (v. 13): Deus e o dinheiro representam mundos contraditórios e procurar conjugá-los é impossível… Os discípulos são, portanto, convidados a fazer a sua opção entre um mundo de egoísmo, de interesses mesquinhos, de exploração, de injustiça (dinheiro) e um mundo de amor, de doação, de partilha, de fraternidade (Deus e o “Reino”).

2. MEDITATIO – meditação
Nossa sociedade acredita que o dinheiro é o deus fundamental e que o resto não tem importância. A troco de dinheiro tudo é possível e aceitável. Ser escravo do dinheiro é algo que só acontece aos outros ou que também eu posso estar na mesma situação? Até onde seríamos capazes de ir por causa do dinheiro?

Jesus avisa os discípulos de que a aposta obsessiva no “deus dinheiro” não é o caminho mais seguro para construir valores duradouros, geradores de vida plena e de felicidade. O que é mais importante: os valores do “Reino” ou o dinheiro? O que é que me move: o dinheiro, ou o serviço aos irmãos?

Todo este discurso não significa que o dinheiro seja uma coisa desprezível e imoral. O dinheiro é algo necessário para vivermos neste mundo e para termos uma vida com qualidade e dignidade… No entanto, Jesus recomenda que o dinheiro não se torne uma obsessão, uma escravidão, pois não nos assegura a conquista dos valores duradouros e da vida plena.

3. ORATIO – oração
Em seu momento de oração peça a Deus a coragem de usar os seus bens para buscar aquilo que é mais importante e duradouro para a sua vida. Recorde também aqueles que colocaram o dinheiro como centro das suas vidas e não conseguem enxergar para além disso.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
Contemple o Mestre que adverte os discípulos para as coisas que são mais importantes na vida. Hoje é o próprio Jesus que a/o adverte para não seguir os caminhos que não levam a bom porto.

5. MISSIO – missão
“Não basta ter só caridade espiritual; é preciso também a caridade material, ou seja, é preciso ajudar-nos mutuamente no trabalho, partilhar as tarefas. Dar a mão ao companheiro que necessita de ajuda.” José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/

 

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