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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Lectio Divina do texto de Lucas 17,5-10 - 27º Domingo do Tempo Comum

Por Patrick Silva

Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!” O Senhor respondeu: “Se tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria. “Se alguém de vós tem um servo que trabalha a terra ou cuida dos animais, quando ele volta da roça, lhe dirá: ‘Vem depressa para a mesa’? Não dirá antes: ‘Prepara-me o jantar, arruma-te e serve-me, enquanto eu como e bebo. Depois disso, tu poderás comer e beber’? Será que o senhor vai agradecer o servo porque fez o que lhe havia mandado? Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos simples servos; fizemos o que devíamos fazer’”. (Lucas 17,5-10)

1. LECTIO – Leitura
Após duas semanas em que o tema foi a correta relação que o discípulo deve ter com os bens materiais deste mundo. Agora o evangelho convida os discípulos a aderir, com coragem e radicalidade, ao projeto de vida que Jesus veio apresentar. Tal adesão se dá através da fé, por meio desta terá início o Reino de Deus. Os discípulos comprometidos na construção do “Reino” devem lembrar que não agem por si próprios, mas são instrumentos através dos quais Deus realiza a salvação.

Nas “etapas” anteriores, Jesus tinha avisado os discípulos da dificuldade de percorrer o “caminho do Reino”, convidou-os à humildade e à gratuidade; avisou-os de que é preciso amar mais o “Reino” do que a própria família, os próprios interesses ou os próprios bens; exigiu-lhes o perdão como atitude; agora, são os discípulos que, preocupados com a exigência do “Reino”, pedem mais fé. O “dito” sobre a fé que ocupa a primeira parte do Evangelho que hoje nos é proposto aparece numa forma um pouco diferente em Mt 17,20. Aqui ele serve a Lucas para manifestar a preocupação dos discípulos com a dificuldade em percorrer esse difícil “caminho do Reino”.

A primeira parte do nosso texto é, portanto, constituída por um “dito” sobre a fé (vs 5-6). Depois das exigências que Jesus apresentou, quanto ao caminho que os discípulos devem percorrer para alcançar o “Reino”, a resposta lógica destes só pode ser: “aumenta-nos a fé”. O que é que a fé tem a ver com a exigência do “Reino”? No Novo Testamento em geral e nos sinópticos em particular, a fé não é, primordialmente, a adesão a dogmas ou a um conjunto de verdades abstratas sobre Deus; mas é a adesão à pessoa de Jesus, à sua proposta, ao seu projeto. No entanto, os discípulos têm consciência de que essa adesão não é um caminho cómodo e fácil, mas supõe um compromisso radical. Pedir a Jesus que lhes aumente a fé significa, portanto, pedir-lhe que lhes aumente a coragem de optar pelo “Reino” e pela exigência que o “Reino” comporta. Jesus aproveita, na sequência, para recordar aos discípulos o resultado da “fé”. A imagem utilizada por Jesus (a ordem dada à “amoreira” para se arrancar da terra e ir plantar-se a ela própria no mar) mostra que, com a “fé” tudo é possível: quando se adere a Jesus e ao “Reino” com coragem e determinação, isso implica uma transformação completa da pessoa do discípulo e, em consequência, uma transformação do mundo que o rodeia. Aderir ao “Reino” com radicalidade é ter na mão a chave para mudar o rumo, mesmo que essa transformação pareça impossível… O discípulo que adere ao “Reino” com coragem e determinação é capaz de autênticos “milagres”…

Na segunda parte do nosso texto (vs 7-10), Lucas descreve a atitude que a pessoa deve assumir diante de Deus. Os fariseus estavam convencidos de que bastava cumprir os mandamentos da Lei para alcançar a salvação. A salvação dependia, de acordo com esta perspectiva, dos méritos a pessoa. Jesus coloca as coisas numa dimensão diferente. A atitude do discípulo frente a Deus não deve ser a atitude de quem sente que fez tudo muito bem feito e que, por isso, Deus lhe deve algo; mas deve ser a atitude de quem cumpre o seu papel com humildade, sentindo-se um servo que apenas fez o que lhe competia. O que Jesus nos pede no Evangelho de hoje é que percorramos, com coragem e empenho, o “caminho do Reino”. Quando o discípulo aceita percorrer esse caminho, é capaz de operar coisas espantosas, milagres que transformam o mundo… E, cumprida a sua missão, resta ao discípulo sentir-se servo humilde de Deus, agradecer-lhe pelos seus dons, entregar-se confiada e humildemente nas suas mãos. Uma mensagem radical e um tanto difícil de acatar para nossa vida…

2. MEDITATIO – meditação
- A fé é a adesão à pessoa de Jesus Cristo e ao seu projeto. Será que é assim que entendo a minha fé, como adesão?
- Há algo de novo à minha volta pelo fato de eu ter aderido a Jesus e pelo fato de eu estar a percorrer o “caminho do Reino”? Quais são os “milagres” que a minha “fé” pode fazer?
- Frequentemente em nossa vida queremos ser “reconhecidos” por aquilo que fazemos, esta mentalidade muitas vezes a transportamos para a relação com Deus. Queremos “comprar” a salvação. No entanto, segundo a Palavra não podemos exigir nada de Deus, somos servos “inúteis”. É uma linguagem dura de aceitar, mas é a atitude que o discípulo deve ter. É assim que eu me comporto?

3. ORATIO – oração
Ore a Deus que lhe dê discernimento para entender a profundida da catequese que a Palavra transmitiu. Trata-se de uma mensagem radical e exigente, difícil de viver em nossa vida. Peça a Deus, como os discípulos, o dom da fé para continuar na caminhada do Reino.

4. CONTEMPLATIO – contemplação
A experiência de ser servo ao serviço de Deus foi uma experiência que animou tantos santos e santas, gente que entregou a sua vida ao serviço dos outros, sem nunca esperar nada em troca. Fiquemos com as palavras de Paulo aos Romanos: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito.” (12,2)

5. MISSIO – missão
“Não devemos deixar de trabalhar por preguiça, mas também não devemos omitir a oração só porque temos de trabalhar. Não somos nós que fazemos; Deus é que faz. Se Ele não abençoa o nosso trabalho é tudo inútil.” José Allamano

Disponível semanalmente em http://www.consolata.org.br/

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