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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Os grandes cismas no cristianismo e as correntes cristãs ao longo dos 20 séculos

Por: Júlio Caldeira, imc

* Este escrito é apenas uma maneira de ajudar na identificação e conhecimento das tradições cristãs e de algumas expressões religiosas. Não visa trazer reflexões morais e/ou valorização de uma denominação em detrimento de outras.

A Igreja Cristã, por dez séculos, era formada por cinco sedes (também chamados Patriarcados): Antioquia, Constantinopla,  Alexandria, Jerusalém e Roma. Todos gozavam de direitos iguais e eram autônomos, sendo que para dirimir questões maiores de fé, convocava-se um Concílio Ecumênico entre elas. O básico da fé cristã está contida no chamado credo apostólico (redigido no Sínodo de Nicéia, em 325 d.C.):

Creio em Deus, Pai todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra. E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria; padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos Céus; está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo; na santa Igreja Católica (universal, cristã...); na comunhão dos Santos; na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; e na vida eterna. Amém.


Com a união entre Igreja e Estado, cuja sede era em Roma, o Patriarcado de Roma recebeu o titulo de “Primus inter pares”, por estar situado na capital do Império, assumindo a primazia sobre os outros Patriarcados. Este fato foi gerando, aos poucos, rixas e discussões de poder e doutrina, principalmente no que se refere à primazia do Papa (bispo de Roma), que culminou, infelizmente, nos vários cismas (divisões) durante os séculos, que deram origem às diferentes denominações cristãs que conhecemos nos dias atuais.
Os grandes cismas foram entre os cristãos do Ocidente e do Oriente, em 1054, que deu origem às Igrejas Ortodoxas (Oriente) e Igreja Católica Romana (Ocidente); o outro aconteceu a partir da Igreja do Ocidente, desde o século XVI, dando origem às Igrejas Protestantes ou Históricas, que veremos mais adiante. Os últimos cismas estão acontecendo nas igrejas ocidentais, desde o século XIX, que está dando origem às igrejas pentecostais e neo-pentecostais.

1.      IGREJAS ORTODOXAS:
Também chamadas Igreja Católica Apostólica Ortodoxa ou Igreja Ortodoxa Oriental, subdividem-se em vários patriarcados, que gozam autoridade e status próprio. A maioria está localizada no leste europeu, nos países eslavos e no Oriente Médio (Ásia).
Os principais patriarcados são:

a)     Patriarcado de Constantinopla
b)     Patriarcado de Alexandria
c)     Patriarcado de Antioquia
d)     Patriarcado de Jerusalém
e)     Patriarcado de Moscou
f)       Patriarcado da Geórgia
g)     Patriarcado da Sérvia
h)     Patriarcado da Roménia
i)       Patriarcado da Bulgária

OBS: Uma parte destas igrejas ortodoxas, aos poucos, uniu-se à Igreja Católica Romana e formam as chamadas Igrejas Católicas de Rito Oriental, sob a autoridade do Papa.

2.     IGREJA CATÓLICA:
Também chamada Igreja Católica Apostólica Romana, tem sua sede no Vaticano (Roma), sob a primazia e autoridade do papa, sucessor direto do apóstolo Pedro. É a maior Igreja cristã em número de fiéis, com mais de 1,1 bilhões de fiéis. Após séculos sob o regime de cristandade, aconteceu uma grande reforma, abertura e diálogo a partir do Concílio do Vaticano II (1962-1965), principalmente para o diálogo com os demais cristãos, religiões e com o mundo moderno.

3.     IGREJAS PROTESTANTES ou HISTÓRICAS:
Durante a história geral estudamos esta parte no que chamamos “Reforma Protestante e Contra-Reforma Católica”. Surgiram do protesto contra as estruturas hierárquicas da Igreja Católica, enfatizando a autoridade e livre interpretação da Bíblia, e rejeitando a autoridade do papa como representante de Cristo na Terra. As principais correntes são:
Igreja
Data
Fundador
Onde
Luterana
1518
Martinho Lutero
Alemanha
Anglicana
1534
rei Henrique VIII
Inglaterra
Presbiteriana
1560
John Knox
Escócia
Metodista
1727
John Wesley
Inglaterra
Batista
1738
John Smyth
Holanda
Episcopal
1789
(Igreja Anglicana)
EUA

Diálogo ecumênico: na busca de um diálogo e reaproximação surgiu nestes níveis cristãos citados acima (Ortodoxos, Católicos e Protestantes) o que chamamos movimento ecumênico. Ecumenismo, provém do grego oikoumene (casa comum, mundo habitado – derivado de oikós [casa, lugar onde se vive] e oikía [ato de construir a casa]), refere-se à busca de unidade entre as igrejas cristãs (Jesus Cristo), a partir do desígnio dele: “Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti. Que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17,21).
O diálogo ecumênico, também chamado ecumenismo, iniciou-se em torno das guerras entre cristãos na Europa do século XVI a XIX (na esperança de buscar a paz) e nos entre os movimentos missionários protestantes (que foram observando o escândalo que as disputas entre cristãos causavam nas pessoas a evangelizar). Após iniciativas e discussões, surgiu em 1910, em Edimburgo, a Conferência Missionária Mundial (entre os protestantes), que abriu caminhos para a construção de uma teologia e a unidade no trabalho missionário[1]. Em 1948, em Amsterdã, surge o Conselho Mundial das Igrejas, que contou com a participação de mais de 140 igrejas cristãs “Naquela ocasião, os que se reuniram em busca da unidade tomaram consciência de que ela não seria possível a menos que se apresentassem com clareza e honestidade as razões que separam os povos, as comunidades e as igrejas”[2].
A nível católico, o diálogo ecumênico iniciou-se, oficialmente, com o Concílio Vaticano II, que no decreto Unitatis redintegratio (sobre o ecumenismo) fala da necessidade de “promover a restauração da unidade entre todos os cristãos (que) é um dos principais propósitos do sagrado Concílio Ecumênico Vaticano II” (UR 1), e reconhece os esforços do movimento ecumênico iniciado pelos protestantes (que chama de “irmãos separados”). Fundamentado nas palavras de Jesus expressa em Jo 17,21: “Que eles sejam um como nós somos um. Que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste”, é importante observar que este como é tradução do grego kathos, que exprime “fonte da nossa própria identidade”.
Segundo um folheto informativo da Casa da Reconciliação, de São Paulo, o ecumenismo que queremos é: a) diálogo que reconhece e respeita a diversidade; b) valorização de tudo que já une as Igrejas; c) trabalho conjunto na construção de um mundo melhor; d) criação de laços de afeto fraterno entre Igrejas; e) oração em comum a partir da mesma fé; f) busca sincera de caminhos para curar as feridas da separação; g) valorização leal de tudo de bom que as diferentes denominações cristãs realizam.
4.      IGREJAS PENTECOSTAIS:
São chamados “pentecostais” pela idéia que tem de viver a realidade de um novo Pentecostes, pela efusão do Espírito Santo e pelas curas milagrosas pela força da fé, baseados numa experiência religiosa de êxtase e emoções fortes. Este movimento nasceu, principalmente, a partir das igrejas batista, metodista e presbiteriana dos EUA, no final do séc. XIX e início do séc. XX.
No Brasil, as igrejas pentecostais desenvolveram-se em “três ondas”:
a)      entre 1910-1950: pentecostalismo de migração (vindo, principalmente, dos EUA: congregacionais, presbiterianos, batistas...): Congregação Cristã (1910 – São Paulo: imigrantes italianos) e Assembléia de Deus (1911 – Belém/PA), que cresceram com as migrações, operários e fenômeno urbano.

b)      déc. 1950-60: pentecostalismo fragmentado (fragmentação na metrópole: êxodo rural): época de cura e milagres aos que tentam se adaptar à metrópole (carentes, sofredores, empobrecidos) – ideal do “reavivamento”: Igreja do Evangelho Quadrangular (1951), O Brasil para Cristo (1955), Deus é Amor (1962).

c)      final dos anos 70 até hoje: o neo-pentecostalismo (aproveitando a onde do marketing e dos meios de comunicação): prática da cura, exorcismo, teologia da prosperidade, soluções imediatas às massas ameaçadas – Igreja Universal do Reino de Deus (1977), Internacional da Graça (1980), Renascer em Cristo (1986), Internacional do Poder de Deus... e tantas outras que surgem a cada dia... (segundo dados, atualmente existem mais de 10 mil denominações cristãs)

5.      OUTRAS IGREJAS “CRISTÃS”:
Algumas igrejas surgiram dentro do cristianismo, mas, no entanto, não se consideram cristãos. Estes movimentos surgiram diante da confusão e do descontrole religioso dos EUA.
a)      Mórmons (Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos últimos dias – 1830): fundada por Joseph Smith, a partir de algumas visões, do qual escreveu o Livro dos Mórmons.
b)      Adventistas do sétimo dia (1830): fundada por Willians Miller, a partir da profecia da volta iminente de Jesus Cristo para purificar o mundo.
c)      Testemunhas de Jeová (1878): fundada por Charles Russell. Adoram somente a Jeová e seguem os ensinamentos de Jesus.

6.      GRUPOS RELIGIOSOS (que tem influência cristã, mas não são cristãs):
a)      A) Espiritismo (1850): fundado por Allan Kardec, reuniu as idéias em sete livros, ditados, segundo ele, pelos espíritos. Sua idéia principal é que os espíritos do outro mundo se comunicam com os vivos. Para eles Jesus não é o Deus Salvador, mas um grande “médium”. Toda ação, boa ou má, receberá a relativa retribuição, por isso as obras de caridade são incentivadas e praticadas assiduamente. Há etapas específicas para o progresso espiritual.
b)      Religiões Afro-americanas: a partir das raízes das religiões africanas trazidas pelos escravos, e do sincretismo destas com elementos católicos, das religiões indígenas e, mais tarde, com o espiritismo, surgiram (entre as principais correntes):
- Candomblé: originária das tradições africanas do tempo da escravidão, expandiu após o fim da escravatura, em 1888, com a valorização dos orixás, rituais e festas próprias. Não deve ser confundido com a umbanda.
- Umbanda: formada dentro da cultura religiosa brasileira, a partir do sincretismo entre catolicismo, espiritismo e religiões afro.
c)      Legião da Boa Vontade: fundada em 1950 por Alziro Zarur, no Rio de Janeiro, a partir de uma inspiração espírita. Dedica-se à assistência social junto às classes mais carentes e a congregação entre pessoas de boa vontade.

7.      OUTRAS EXPRESSÕES RELIGIOSAS (não são cristãs):
a)      Budismo
b)      Islamismo (muçulmanos)
c)      Hinduísmo
d)      Judaísmo
e)      Confucionismo
f)       Religiões tradicionais Africanas, Americanas (indígenas) e da Oceania (aborígenes)


[1] Desta Conferência, surgiu a iniciativa da “Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos”, celebrada anualmente. Aqui no Brasil celebra-se na semana entre a Ascensão e Pentecostes.
[2] SANTA ANA, Julio H.. Ecumenismo e Libertação. Petrópolis: Vozes, 1987, p.239.

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