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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Lectio Divina de Mateus 5,17-37 - 6º Domingo do Tempo Comum

Por: Patrick Silva, imc

Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para cumprir.Em verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo aconteça. Portanto, quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar os outros, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus. Eu vos digo: Se vossa justiça não for maior que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus.“Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás! Quem matar deverá responder no tribunal’. Ora, eu vos digo: todo aquele que tratar seu irmão com raiva deverá responder no tribunal; quem disser ao seu irmão ‘imbecil’ deverá responder perante o sinédrio; quem chamar seu irmão de ‘louco’ poderá ser condenado ao fogo do inferno. Portanto, quando estiveres levando a tua oferenda ao altar e ali te lembrares que teu irmão tem algo contra ti, deixa a tua oferenda diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão. Só então, vai apresentar a tua oferenda. Procura reconciliar-te com teu adversário, enquanto ele caminha contigo para o tribunal. Senão o adversário te entregará ao juiz, o juiz te entregará ao oficial de justiça, e tu serás jogado na prisão. Em verdade, te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo. “Ouvistes que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Ora, eu vos digo: todo aquele que olhar para uma mulher com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela em seu coração. Se teu olho direito te leva à queda, arranca-o e joga para longe de ti! De fato, é melhor perderes um de teus membros do que todo o corpo ser lançado ao inferno. Se a tua mão direita te leva à queda, corta-a e joga-a para longe de ti! De fato, é melhor perderes um de teus membros do que todo o corpo ir para o inferno. “Foi dito também: ‘Quem despedir sua mulher dê-lhe um atestado de divórcio’. Ora, eu vos digo: todo aquele que despedir sua mulher — fora o caso de união ilícita — faz com que ela se torne adúltera; e quem se casa com a mulher que foi despedida comete adultério. “Ouvistes também que foi dito aos antigos: ‘Não jurarás falso’, mas ‘cumprirás os teus juramentos feitos ao Senhor’. Ora, eu vos digo: não jureis de modo algum, nem pelo céu, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o apoio dos seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do Grande Rei. Também não jures pela tua cabeça, porque não podes tornar branco ou preto um só fio de cabelo. Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não. O que passa disso vem do Maligno. (Mateus 5,17-37)

1. LECTIO – Leitura

Ao longo das últimas semanas temos feito uma leitura continuado do quinto capítulo do evangelho de Mateus. Trata-se de um discurso de Jesus direcionado a todos, mas com especial ênfase, para os seus discípulos, como bem nos recorda o texto ao “informar” que os discípulos tomaram a dianteira: “Os discípulos aproximaram-se…” (Mt 5,1). Para bem entender o “pano de fundo” do texto, importa recordar que as primeiras comunidades cristãs, de modo especial as de ambiente judaico, se debatiam com a questão: Jesus aboliu a Lei de Moisés? O evangelho irá procurar responder a esta questão.

No versículos 17 a 19, Mateus recorda que Jesus não veio abolir a Lei de Deus. A Lei de Deus continua válida, porém, deve ser olhada não como um conjunto de prescrições legais e externas, mas como a expressão concreta de uma adesão total a Deus.

Na segunda parte do texto (vs 20-37), Mateus refere quatro exemplos concretos desta nova forma de entender a Lei (na realidade, são seis os exemplos que aparecem no conjunto do texto de Mateus, porém, o evangelho deste domingo apenas apresenta quatro; os outros dois serão apresentados no próximo domingo).

O primeiro (vs 21-26) refere-se às relações fraternas. A Lei de Moisés exige o não matar (veja Ex 20,13; Dt 5,17); mas, na perspectiva de Jesus, o não matar implica o evitar causar qualquer tipo de dano ao próximo… Os discípulos de Jesus não podem limitar-se a cumprir o que está na Lei; têm que assumir uma nova atitude, que os leve a um respeito absoluto pela vida e pela dignidade do próximo. A título de exemplificação, Mateus aproveita para apresentar uma catequese sobre a urgência da reconciliação. Para o evangelista, a reconciliação com o próximo deve sobrepor-se ao próprio culto, pois é uma mentira a relação com Deus de alguém que não ama o próximo!

O segundo (vs 27-30) refere-se ao adultério. A Lei de Moisés exige o não cometer adultério (veja Ex 20,14; Dt 5,18); mas, na perspectiva de Jesus, é preciso ir além e ir agir na raiz do problema – ou seja, o coração da pessoa… É no coração que nascem os desejos de posse daquilo que não lhe pertence; portanto, é a esse nível que é preciso realizar uma “conversão”. A referência ao arrancar o olho que é ocasião de pecado (o olho é, nesta cultura, o órgão que dá entrada aos desejos) ou a cortar a mão que é ocasião de pecado (a mão é, nesta cultura, o órgão da ação, através do qual se concretizam os desejos que nascem no coração) são expressões fortes (bem ao gosto da cultura semita mas que, no entanto, não temos de traduzir à letra) para dizer que é preciso atuar lá onde as ações más da pessoa têm origem e eliminar, na fonte, as raízes do mal.

O terceiro (vs 31-32) refere-se ao divórcio. A Lei de Moisés permite ao homem repudiar a sua mulher (veja Dt 24,1); mas, na perspectiva de Jesus, a Lei tem de ser corrigida: o divórcio não estava no plano original de Deus, quando criou o homem e a mulher e os chamou a amarem-se e a partilharem a vida.

O quarto (vs 33-37) refere-se à questão do julgamento. A Lei de Moisés pede, a fidelidade aos compromissos selados com um juramento (veja Lv 19,12; Nm 20,3; Dt 23,22-24); mas, na perspectiva de Jesus, a necessidade de jurar implica a existência de um clima de desconfiança que é incompatível com o “Reino”. Para os que estão inseridos na dinâmica do “Reino”, deve haver um tal clima de sinceridade e confiança que os simples “sim” e “não” bastam. Qualquer fórmula de juramento é, assim, supérflua.

A questão essencial é, portanto, quem quer fazer parte deste “Reino” não pode se restringir ao cumprir formalidades, mas deve aderir totalmente ao “Reino” que comporta um estilo de vida.

2. MEDITATIO – meditação

Qual a importância da Lei de Deus na minha vida? Vejo-a como algo que deve obedecer cegamente ou como uma atitude a seguir na minha vida?

“Não matar” para Jesus é evitar tudo aquilo que cause dano ao meu próximo. Será que minhas atitudes estão de acordo com esta perspectiva de Jesus?

A reconciliação com o próximo é colocada como condição para que as nossas celebrações sejam verdadeiras. Estou reconciliado com todos?

3. ORATIO – oração

A novidade de Jesus não passa por abolir aquilo que já era proposto, mas por uma nova atitude perante essa mesma lei. Muitas vezes os mandamentos são vistos como “empecilhos” para a minha liberdade/felicidade. Ore para que Jesus lhe dê a coragem de não ficar na obediência cega às leis, mas a aderir totalmente em corpo e espírito à sua proposta de liberdade/felicidade.

4. CONTEMPLATIO – contemplação

Contemple Jesus em sua missão realizando na sua própria vida esta “antiga/nova” lei. Veja quantas vezes parece ter ido contra a lei, porque a vida do próximo tem a primaxia.

5. MISSIO – missão
“Sede simples e verdadeiros. O que é sim, seja sim; o que é não, seja não. Sede transparentes no falar: dizei as coisas como são ou como pensais que sejam.” José Allamano






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